Leia ouvindo: Super Hang-On – Outride a Crisis

Durante
a faculdade eu pude estudar formalmente o assunto. Minha monografia de conclusão de curso
foi dedicada a analisar o mercado de games. Parti de duas concepções simples. A
primeira: videogames são brinquedos. Sofisticados, sim, e cada vez mais
inteligentes e funcionais. Mas são brinquedos.
A
segunda: exatamente por serem brinquedos, videogames não podem ser caros. Ainda
que a idade média dos jogadores esteja aumentando, a maior parte desse mercado é
formada por consumidores jovens. Seja um adolescente que ganha mesada dos pais,
seja um profissional recém-formado em início de carreira, nenhum dos dois tem
grana sobrando. Jogar é um passatempo como qualquer outro, não deve custar
muito mais do que o valor gasto em um ano com livros ou balada, por exemplo.
Fora
daqui, o mercado continuou sua trajetória normal. Nos países em que eram vendidos por menos de
200 dólares, os videogames caíram de vez no gosto popular. A tecnologia dos CDs barateou bastante também o preço dos jogos. CDs de PlayStation eram vendidos por 10-15 dólares poucos meses após o lançamento, impulsionando ainda mais o consumo. O faturamento da indústria
de jogos eletrônicos começou a ultrapassar, ano após ano, o faturamento de
outros setores tradicionais de entretenimento, como o cinema.
No
começo dos anos 2000, quando eu já estava terminando a faculdade, aconteceu
algo parecido. O PlayStation só barateou (e se popularizou) no Brasil quando a
Sony já lançava lá fora a segunda geração do aparelho (PS2), com o quádruplo de
capacidade.
Acho
que já me fiz entender. Fui pra faculdade estudar Economia e pude formalizar as
ideias que já tinha antes sobre um mercado que eu sempre acompanhei de perto.
O
curioso é que não fiz nenhuma conclusão original. Um bem de consumo de massa
não pode ter seu preço desproporcional à renda média do consumidor. Isso não é
uma sacada genial. É apenas bom senso.
Mas
o mercado brasileiro não lida com bom senso. Para qualquer lugar que se olhe, há
apenas mal-entendidos. Seja do governo, das empresas ou dos trabalhadores. Ninguém
faz sua parte direito, mas todos têm as desculpas na ponta da língua –
geralmente colocando a culpa no outro.
Mas e a
faculdade de Economia? Não ajudou em nada, então?
Não
é bem assim. A faculdade me permitiu conhecer algumas ferramentas de análise. Em
Economia, a principal ferramenta é a comparação. Você pega alguns dados e
compara um com o outro. E a partir dessa comparação tenta esboçar uma
tendência.
Recentemente, um jogo chamado L.A. Noire me forneceu alguns dados. Toda a ação do jogo se passa em Los Angeles, na segunda metade da década de 40. É um jogo tão bem feito, com tanta riqueza de detalhes, que me permitiu fazer algumas comparações entre os Estados Unidos daquela época e o Brasil de hoje em dia.
Mostrarei
essas comparações na terceira e última parte dessa série sobre videogames e
economia. Prometo não demorar tanto dessa vez. Até lá.