Saí de casa e tava chovendo. São Paulo + chuva = trânsito. Logo na primeira avenida que o ônibus pega, um congestionamento daqueles. Pra melhorar, a droga do teto do busão tava com goteira, bem em cima da poltrona da minha mulher. Por sorte, o ônibus tava meio vazio hoje e a gente conseguiu outro lugar pra sentar.
A poltrona tava do outro lado do ônibus... não consegui me encaixar direito nela e, em conseqüência, não consegui dormir durante todo o trajeto. Aproveitei pra ficar ouvindo o 3º disco do Living Colour que eu tinha baixado no celular.
Enfim.
Cheguei no trabalho e tava até dentro do horário que eu costumo chegar, a chuva não me atrapalhou tanto quanto eu havia imaginado.
No escritório, guardei minhas coisas na gaveta da mesa e liguei o computador. Tava com sede. Fui até o bebedouro e percebo que só descem algumas gotas pela torneira. O galão de água mineral estava vazio.
Fui até a outra sala pegar o galão quando sou surpreendido com os chamados de duas colegas para que eu vá à mesa delas. Elas me contam que eu fui promovido, que meu nome está no Diário Oficial do Estado e que nos próximos dias me tornarei definitivamente um “Controlador de Pagamento de Pessoal nível II”. O que representa, em termos práticos, uns 15 merréis a mais no contra-cheque (isso mesmo, 15 reais). Fingi estar feliz diante de todos.
Na hora de fechar o estilete abro um rombo no meu dedão esquerdo. O sangue jorra. Corro até o banheiro. Está fechado. O tiozinho da limpeza ainda está lá dentro dando o último trato. O sangue da minha mão está gotejando no chão nesse momento.
O tiozinho, simpático, abre a porta pra mim, se admira com o tamanho do rasgo no meu dedo e fala pra eu ir pro ambulatório daqui do prédio. Ainda não deu 8 horas. Imagino que ainda esteja fechado, sem ninguém pra atender. Fico com a mão embaixo de água corrente durante alguns minutos, com o sangue se recusando a parar de jorrar da ponta do dedão. Ouço o sino da catedral aqui perto badalar 8 vezes.
Sigo o conselho do tiozinho da limpeza e vou ao ambulatório. Chegando lá às 8 em ponto, e, como seria razoável supor, (é óbvio, claro, lógico, imagina se não) não tem ninguém lá. Aliás, tem o médico (clínico-geral é médico?) que atende lá. Meio rabugento ainda, talvez por causa do sono matinal e do clima chuvoso que foi obrigado a enfrentar após sair de sua cama quente, o médico disse pra eu apertar o dedo contra um lenço de papel, pra estancar um pouco o sangramento enquanto eu esperava a enfermeira chegar (afinal, o “dotô” não ia se sujeitar a fazer um curativo, né? Isso é trabalho de enfermeira).
Fico aguardando num sofá. Depois de alguns minutos, escuto passos. Enfim, a tal enfermeira.
Nada. Era só recepcionista do ambulatório.
Passo a ela meu nome completo e a sessão onde trabalho. Ela diz que a enfermeira “já tá chegando”.
Exatos 40 minutos após eu ter chegado lá no ambulatório, finalmente a enfermeira chega, me faz um curativo e eu subo de volta à minha sessão. Mostro, gloriosamente, a atadura em minha mão.
E o pior de tudo isso é que eu fiquei esse tempo todo, desde que eu saí de casa, com uma vontade danada de fazer cocô...
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