Sair no braço uma vez ou outra faz
parte da formação masculina. Seja na escola, na academia, na rua ou no campinho
de futebol da esquina, mais cedo ou mais tarde um garoto vai dar e receber algumas
boas bordoadas.
Tem mulheres que ignoram solenemente
essa parte do processo de formação do indivíduo masculino. Algumas mães
simplesmente não aceitam e se escandalizam quando o pimpolho chega em casa com uns
arranhões.
O que elas não entendem é que a
energia que se tem quando somos moleques é algo completamente incontrolável,
beira o infinito. É preciso descarregá-la de alguma forma.
Assim sendo, uma briga pode começar
mesmo sem ter motivo. Basta apenas que dois moleques queiram chegar às vias de
fato.
Cito um exemplo pessoal.
Minha família mudou de casa algumas
vezes enquanto eu era criança. Apartamentos, edículas, lugares improvisados. Era
o que dava para os meus pais pagarem.
Eu devia ter algo entre 7 e 8 anos
quando nos mudamos pra um lugar realmente legal. Era uma casa grande, com 3
quartos, localizada em um bairro tranquilo, arborizado e cheio de crianças da
minha idade.
Uma das lembranças mais fortes que
eu tenho daquela época é que todos os dias, ao entardecer, eu pegava minha fiel
BMX e dava uma volta pelos quarteirões vizinhos.
Eu sempre parava na frente de uma
casa que era diferente das outras. Ela tinha um acabamento mais simples e não
possuía calçada na frente, somente uma árvore imensa. Em cima da árvore sempre
tava um moleque descalço, de cabelo pixaim meio aloirado, apenas me esperando.
Não precisávamos conversar, já
sabíamos pra estávamos ali. Eu apoiava a minha BMX na árvore, ele descia da
árvore e começávamos a lutar.
Nunca nos machucamos muito. Ele era
somente um menino magricela e eu não tinha coordenação suficiente para acertá-lo
em cheio.
Em poucos minutos, exaustos, nos
despedíamos com algum grunhido e cada um voltava pra sua casa.
Na escola também tive meus momentos.
Teve vez que senti medo, quando me estranhei com um grandalhão mais velho. E
teve vez que banquei o fanfarrão – quando, no caso, eu era o grandalhão mais
velho. Apanhei, bati, nada além do trivial.
Lá pelos meus 14 anos, a turma da
escola começou a adotar em nossa rotina aquilo que era conhecido como “lutinha”.
Na prática era um linchamento em forma de rodízio, em que a cada rodada um era
o eleito pra ser o saco de pancadas do restante.
Era divertido, claro, mas com o
passar dos anos começamos a ter problemas. Por dois motivos. Primeiro porque
com a prática começamos a ter mais controle dos movimentos. Os golpes, antes
atabalhoados, passaram a ser mais certeiros.
Em segundo lugar, porque o corpo de
um garoto entre 15 e 17 anos tem um ganho considerável em massa muscular. Ou seja,
os murros eram mais precisos e, também, mais fortes.
Não demorou muito para que os professores
notassem que vivíamos com a pele esfolada e alguns hematomas. Depois do
intervalo entre as aulas, às vezes voltávamos pra classe com as roupas
encardidas, às vezes rasgadas.
Mas tudo só acabou mesmo quando uma
das mães viu o filho saindo do banho, apenas com a toalha enrolada na cintura,
e notou as marcas das pancadas. A reação dela foi tão previsível quanto
inevitável: correu à escola, entrou na sala da diretora e fez um escândalo. E
nós fomos proibidos de continuar com o nosso pugilato matinal.
Passei um longo tempo sem cerrar os
punhos.
Anos depois, já terminando a
faculdade, acabei entrando numa briga meio sem querer. Alguns amigos se encrencaram
com um trio de desconhecidos. Um dos caras do outro lado era alto, musculoso, e
partiu pra cima da gente, querendo resolver logo as coisas. Seus dois parceiros
eram menores, mas também estavam dispostos a lutar e vieram junto.
Estávamos em maior número e levamos uma
boa vantagem, principalmente depois que conseguimos controlar o marmanjo. Todos
levamos alguns sopapos, eu mesmo tomei um soco na orelha que a fez zunir por
dias, mas sem dúvida aqueles três apanharam bem mais.
Mas essa briga serviu,
principalmente, pra me mostrar o quanto os anos de inatividade me prejudicaram.
Percebi que mesmo me esforçando ao máximo meus golpes mal eram sentidos pelos
caras.
Me senti mal com isso e voltei à boa
e velha musculação.
Mas eu sei, claro, que na vida
adulta é difícil, senão impossível, imaginar alguma situação em que eu possa me
envolver numa troca de... que que é, hein? Tá me estranhando? Te quebro a cara...
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